Sou um jogador de longa data que acumulou inúmeras horas de videogame ao longo dos anos. Milhares em EverQuest, milhares mais em Counter-Strike e outras milhares em Bloodline Champions, Battlerite e Rocket League.
Além disso, passei milhares de horas jogando diversos jogos de SNES, PS1 e N64 durante minha infância.
No entanto, agora que estou na metade dos meus trinta anos, os videogames meio que… perderam o brilho? Claro, ainda jogo de vez em quando, mas atualmente prefiro muito mais sentar e desfrutar de uma boa partida de jogos de tabuleiro.
Parte disso se deve à era de ouro dos jogos de tabuleiro que estamos vivendo, mas também tem a ver com como eu mudei como pessoa, o que passei a valorizar nos jogos e as diferenças fundamentais entre esses formatos de jogo.
Aqui estão minhas razões pessoais pelas quais prefiro jogar jogos de tabuleiro em vez de videogames sempre que possível. (Sem julgamentos se você ama videogames!)
1. Interação Social Pessoal
Qual é a grande vantagem dos jogos de tabuleiro sobre os videogames? Bem, um jogo de tabuleiro fica no centro de todos, forçando-nos a olhar uns para os outros enquanto jogamos (em vez de ficarmos todos olhando para uma tela de TV ou monitor).
E há algo mágico nisso.
É um tipo de jogo mais íntimo. Não apenas todos estão compartilhando o mesmo espaço físico, mas também estamos observando uns aos outros jogando. As expressões faciais, as mudanças na linguagem corporal, os momentos de triunfo e/ou derrota—presenciar tudo isso faz parte da experiência.
E sim, isso é verdade independentemente do jogo ter muita interação entre os jogadores ou não. O elemento social pode ter um papel maior em jogos como Just One, The Resistance e Dixit, mas ainda está presente em jogos chamados de “solitários multijogador”, como Wingspan e The Search for Planet X.
Os jogos de tabuleiro realmente brilham quando aproveitam essa oportunidade de interação face a face.
Em alguns jogos de tabuleiro, você interage tanto com as pessoas quanto com o próprio jogo. Os videogames raramente fazem isso.
Por exemplo, Waterfall Park (também conhecido como Chinatown) é um jogo onde 95% do tempo é gasto negociando com os outros. Qualquer coisa que você tenha—seu dinheiro, suas peças, seus terrenos no tabuleiro—pode ser oferecida e trocada por qualquer coisa que outra pessoa tenha. As discussões resultantes são fantásticas.
Mas isso também é verdade para outros tipos de jogos sem negociação.
New York Slice é um jogo onde você divide uma pizza em diferentes seções e, em seguida, os jogadores escolhem qual seção querem. Não há negociação, mas ainda assim gera conversas divertidas à mesa enquanto os jogadores dividem e escolhem. Eu adoro isso.
Os jogos de tabuleiro também geralmente têm um tempo de inatividade entre os turnos que os videogames multijogador no sofá normalmente não têm, e isso permite socialização.
Quando jogamos jogos como Super Smash Bros, Overcooked ou até Stardew Valley, estamos ativamente envolvidos no jogo quase 100% do tempo. Então, podemos estar jogando juntos, mas não há tempo para socializar. Qualquer troca que aconteça tende a ser curta e superficial.
Enquanto isso, muitos jogos de tabuleiro são baseados em turnos, então você tem períodos de ação (no seu turno) e períodos de inatividade (nos turnos dos outros). Os jogadores que não estão jogando têm a oportunidade de conversar… sobre qualquer coisa!
Obviamente, não é legal atrapalhar um jogo com conversas tangenciais. Quando não é sua vez, você deve pensar no seu próximo turno para que o jogo continue fluindo. Mas em jogos menos exigentes, onde você não precisa pensar tanto, é divertido socializar durante o tempo de inatividade.
Olha, não estou dizendo que os videogames não têm valor social. O que quero dizer é o seguinte: a experiência social de um jogo de tabuleiro é qualitativamente diferente daquela de um videogame, mesmo jogando juntos no sofá.
A presença física pode estar lá, mas o contato visual não—e eu sinceramente acredito que o contato visual faz uma ENORME diferença. O contato visual acelera a ligação entre os jogadores e pode afetar radicalmente a dinâmica social de um jogo.
2. Elementos de Game Play e Dinâmica Unicos
Muitos jogos de tabuleiro simplesmente não poderiam existir como videogames. Ou, se pudessem, perderiam muito de sua magia na transição.
O exemplo mais claro disso é o gênero de dedução social, onde a linguagem corporal e o contato visual são essenciais para fazer observações sutis, obter informações dos outros e chegar a conclusões significativas.
Joguei Town of Salem (que é basicamente uma versão online de Máfia ou Lobisomem) e odiei. Ter pouco mais do que um chat de texto, ou até mesmo chat de voz, tira muito do que torna a jogabilidade interessante.
Também joguei Among Us, tanto online com estranhos quanto offline com todos na mesma sala. Embora seja melhor do que Town of Salem, ainda achei a experiência inferior aos grandes clássicos: The Resistance, Deception: Murder in Hong Kong, Spyfall, Scape Goat, etc. A dedução social simplesmente é melhor como jogo de tabuleiro.
Mas essa questão não se limita à dedução social.
Você consegue imaginar jogar um jogo como Cash N Guns pelo Zoom ou Discord? Sim, isso não vai funcionar! Two Rooms and a Boom seria terrível, mesmo se pudesse ser replicado online, pelas mesmas razões.
Metade da diversão em jogos como Telestrations e Doodle Dash é desenhar com marcadores apagáveis enquanto ri como um louco. E embora eu adore Drawful e os outros jogos de desenho no Jackbox Party Packs, há um fator especial que se perde na digitalização do desenho.
A verdade é que a fisicalidade dos jogos de tabuleiro muitas vezes melhora a jogabilidade.
Considere Just One. Poderia facilmente ser transformado em um aplicativo web ou móvel onde tudo o que você faz é digitar sua palavra. O aplicativo poderia lidar instantaneamente com palavras conflitantes, então o adivinhador só precisaria digitar seu palpite. Mas onde está a diversão nisso? Os cavaletes de plástico e os marcadores apagáveis contribuem para que seja um dos meus jogos de festa favoritos.
E então há jogos de tabuleiro onde a socialização é o jogo.
Recentemente, joguei Once Upon a Time pela primeira vez e isso me surpreendeu. É um jogo de contar histórias onde os jogadores precisam direcionar a narrativa, zigzagueando por todos os lados enquanto diferentes elementos são introduzidos através de cartas.
Não há como converter isso em um videogame. Como seria uma versão digital de Once Upon a Time? Em vez de cartas físicas, você teria cartas digitais… mas essas cartas não fazem nada. As cartas são apenas estímulos; os jogadores criam a jogabilidade a partir dos estímulos.
3. Experiencia tátil
Nos meus tempos de faculdade, jogava muito pôquer. Tecnicamente, o pôquer pode ser jogado com qualquer baralho padrão de cartas e qualquer coisa que você queira usar como moeda. Pode ser moedas, cédulas ou até mesmo jujubas, mas a maioria das pessoas joga usando fichas de pôquer.
As fichas de pôquer vêm em diferentes qualidades, desde fichas finas de plástico até fichas pesadas de argila. Mesmo que duas fichas possam representar a mesma coisa, independentemente do material de que são feitas, as fichas de maior qualidade proporcionam uma experiência mais premium.
Porque nós, como seres humanos, somos criaturas táteis.
Há alegria e prazer em tocar materiais que são agradáveis ao tato. Laptops de alumínio simplesmente têm uma sensação melhor. Lençóis com maior contagem de fios são mais agradáveis. Mesas de madeira são mais agradáveis do que mesas de plástico. Neoprene é mais agradável do que feltro. O simples ato de tocar esses materiais é uma experiência agradável.
E assim é com os jogos de tabuleiro. Cartas grossas com acabamento em linho. Dados robustos. Peças de baquelite. Moedas pesadas de metal. Tapetes de jogador de neoprene. Quadros e marcadores apagáveis. Meeples de madeira, contas de vidro, miniaturas enormes.
Há uma grande diferença entre selecionar virtualmente uma carta em Slay the Spire e jogar uma carta física da sua mão em Spirit Island. Isso toca algo profundo em nós e acredito que resulta em uma conexão emocional mais forte com os jogos que jogamos. Sinto falta dessa experiência tátil quando estou jogando videogames.
E isso sem mencionar os outros sentidos.
O som de um embaralhamento nítido. O cheiro de um jogo de tabuleiro recém-aberto. O barulho das peças em Azul ou Mahjong. Os designs artísticos e as imagens que dão vida a esses jogos. Tudo se junta para uma experiência mais completa.
4. Detox Digital
Muitos videogames são projetados para colocá-lo em um “estado de fluxo”, onde você está tão focado e imerso que desliga tudo ao seu redor. Eles também são projetados para serem viciantes, para manter sua atenção, para prender e nunca soltar—por isso, muitas vezes acabam sendo superestimulantes com constantes doses de dopamina.
Os jogos de tabuleiro são um passo longe de tudo isso. A satisfação que vem de uma sólida sessão de jogos de tabuleiro é mais profunda, rica e gratificante.
Você controla tudo em um jogo de tabuleiro. O tabuleiro, as peças, as cartas, os dados—são todas representações físicas das mecânicas do jogo. A jogabilidade em si acontece em sua mente. Entre isso e a sensação tátil (mencionada anteriormente), os jogos de tabuleiro proporcionam um engajamento mais holístico com o entretenimento.
Além disso, depois de um longo dia trabalhando no computador, depois de depender de um smartphone para tantas coisas, depois de vegetando com Netflix ou YouTube, é bom fazer uma longa pausa das telas digitais.
Especialmente no final da noite, quando a luz azul das TVs, computadores e smartphones pode potencialmente atrapalhar os ritmos circadianos e contribuir para problemas de sono. (Não há ciência conclusiva sobre isso, mas anedoticamente eu sinto isso.)
5. Ampla Acessibilidade
Nem todo mundo quer jogar videogames. Nem todo mundo pode jogar videogames. Mas jogos de tabuleiro? Eles podem reunir todos os tipos de pessoas.
Sou filho de pais imigrantes e posso te dizer o seguinte: eles nunca jogaram um único minuto de qualquer videogame em toda a vida. Eles simplesmente não entendem videogames. Eu poderia colocar Jackbox e eles não participariam.
Mas Rummikub ou Take 5? Ah, esses eles jogam! E o mais importante, eles se divertem com isso. Jogos de tabuleiro fazem sentido, não importa quem você seja, e por causa disso, até mesmo os não jogadores estão frequentemente dispostos a participar. Algumas famílias têm a sorte de jogar Ticket to Ride, Azul, Codenames ou Wingspan juntos.
Você talvez nunca consiga convencer a vovó a jogar Super Smash Bros ou Mario Party com você, mas provavelmente conseguirá fazer com que ela jogue Patchwork, Love Letter ou For Sale. O vovô pode não se importar com Xbox ou PlayStation, mas ele pode se interessar por Crokinole, Klask ou Junk Art.
E não são apenas os mais velhos. Algumas pessoas—sejam jovens, velhas, homens, mulheres, tanto faz—têm dificuldade em controlar personagens na tela usando controladores. Outras literalmente sentem enjoo de movimento.
Videogames não são para todos, mas jogos de tabuleiro podem ser.
6. Modificações e Regras da Casa
Você é um purista dos jogos de tabuleiro? Se for, sinta-se à vontade para pular para o próximo ponto. Sei que há jogadores que só jogam pelas regras oficiais e nunca fazem ajustes pessoais, e acho que essa é uma abordagem válida para os jogos.
Mas, no que me diz respeito, não há problema em mexer no design de um jogo e jogá-lo de uma maneira que você ache mais divertida e interessante.
É muito parecido com a modificação em videogames. Muitos jogos ótimos podem ficar ainda melhores com certos mods. Não quer jogar com mods? Tudo bem! Mas se você quer se livrar de uma característica que te irrita ou adicionar uma nova que você acha que seria legal, a modificação permite isso.
No entanto, os jogos de tabuleiro têm uma vantagem aqui, pois você não precisa de habilidades de programação para modificar um jogo de tabuleiro. Tudo o que você precisa é de criatividade.
Além disso, se você quiser criar seu próprio jogo em algum momento, não há maneira melhor de ganhar experiência prática do que ajustando jogos existentes e vendo como essas modificações funcionam. Por que desencorajar isso?
7. Estética de Coleção
Mesmo que você não colecione jogos de tabuleiro, tem que admitir que coleções de jogos de tabuleiro são incríveis.
Há tantos artistas talentosos na indústria de jogos de tabuleiro, e a maioria das capas de jogos são verdadeiras obras de arte. Uma prateleira cheia de capas bonitas de caixas chama atenção de uma maneira que outras coleções não conseguem.
Coleções de videogames, em particular, são meio… sem graça. Se você possui apenas jogos digitais, sua coleção basicamente se resume a uma captura de tela do Steam, da Nintendo eShop, etc. Se sua coleção é física, cada jogo na prateleira basicamente parece idêntico aos outros, uma linha monótona de vermelho, verde ou azul, dependendo se você é jogador de Nintendo, Xbox ou PlayStation.
Sim, os jogos de tabuleiro são claramente vencedores nesse aspecto.
8. Sem Custo de Manuntenção de Hardware
Tenho um PC antigo e um Nintendo Switch.
Se eu quiser jogar jogos modernos de PC como eles devem ser jogados (ou seja, nas configurações recomendadas), não consigo sem atualizar minhas especificações. É meio chato que o software dependa tanto do hardware, mas não há como escapar disso.
Da mesma forma, chegará um dia em que meu Nintendo Switch ficará obsoleto. Isso aconteceu com o Nintendo 3DS e o Nintendo Wii U em março de 2023, e vai acontecer com a Xbox 360 Store em julho de 2024.
E não é como se eu pudesse comprar um jogo de Xbox para jogar em um PlayStation. Além de precisar do console correspondente para jogar um videogame, a experiência em um console pode não ser a mesma em outro por vários motivos.
Nada disso é um problema com jogos de tabuleiro!
Compatibilidade de console não é uma questão nos jogos de tabuleiro. Você compra uma caixa e tudo o que precisa está dentro. Se você guardar essa caixa por 100 anos, poderá retirá-la e ainda jogar—e será a experiência completa.
Mas eu Ainda Jogo Video Games
Apesar de criticar videogames por mais de 2.000 palavras, eu não os odeio. Na verdade, algumas das minhas memórias mais queridas sempre serão relacionadas a videogames.
Então, quando eu prefiro videogames?
Bem, os videogames são ótimos quando estou me sentindo preguiçoso e não quero passar pelo processo de montar e desmontar um jogo de tabuleiro. Às vezes, é bom simplesmente ligar o Switch e deixar o jogo se cuidar sozinho.
E os videogames definitivamente levam vantagem quando se trata de jogabilidade complexa. Quando o manual de regras é enorme, quando há muito controle mental, quando há muitos componentes complicados, prefiro jogar como um videogame. (É por isso que eu costumo evitar grandes jogos de tabuleiro estilo campanha.)
Acho que grandes jogos expansivos de estilo de vida são melhores como videogames. Uma das minhas lembranças favoritas é jogar Stardew Valley durante todo um verão em modo cooperativo no sofá com minha namorada. Podíamos relaxar e entrar em um estado de fluxo, totalmente absorvidos por esse jogo cheio de atividades.
Os videogames também são ótimos para jogos de festa rápidos e cheios de ação, como Tilt Pack, Hidden in Plain Sight ou Boomerang Fu. Mesmo os jogos de tabuleiro em tempo real mais rápidos não capturam o mesmo tipo de diversão frenética que os videogames podem ter, e essa é uma área onde eu opto alegremente por um videogame.
Então, sim, os videogames têm seu lugar. Mas, no geral? Acho que os jogos de tabuleiro oferecem uma experiência muito mais gratificante, então eu os prefiro.
E você? Prefere um ao outro? Ou talvez goste igualmente dos dois de maneiras diferentes? Adoraria saber! Deixe-me saber nos comentários abaixo.
Pedro Henrique Silva é um apaixonado por jogos de mesa, um entusiasta incansável que encontra sua felicidade em explorar os mais diversos universos que esses jogos proporcionam. Pedro dedicou grande parte de sua vida a mergulhar em aventuras intermináveis, seja em jogos de tabuleiro, cartas, RPG ou qualquer outro jogo que desafie a mente e inspire a imaginação.